Cresceu nos últimos anos a comercialização de serviços ensinando as pessoas a fazer: comida, roupas, trecos, jardinagem, treinos, crossfit. Enfim, uma infinidade de coisas foi ensinada nos últimos tempos. Dois pontos chamam a atenção:
a) a velocidade com que isso foi divulgado nas redes sociais e internet
b) nossa necessidade de aprender.
Uma coisa é verdade e o Google lançou relatório mostrando que expressões do tipo “Como fazer…”, “Como…” crescerem nos últimos anos e tem aumentado ainda mais durante a pandemia. Nós queremos métodos, maneiras, jeitos, passo a passo para lidar com a realidade, com as coisas, pessoas e, claro, com nossos afetos.
Uma das coisas mais comuns que um psicólogo ouve dos pacientes é “Como eu faço…”: pra mudar, pra deixar de gostar, pra ser menos ansioso, pra amar de novo… Mas quando estamos falando de emoções, afetos, não creio que exista um método que seja bom para todos. Há uma frase de Freud que diz que “A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz”. Ou seja, não há métodos, “10 passos para…”
“Então, não vale a pena fazer terapia?” Creio que a terapia seja para aprender novos hábitos, mudar algumas concepções: ser ou estar feliz será uma consequência disso. De certa forma, fazer ou estar em terapia é um “como”, pois podemos aprender novos jeitos de pensar e ser, facilitando nossa recuperação mental, desenvolvimento ou seja lá qual for o propósito que nos faça buscar terapia. Uma coisa é certa: talvez não seja fácil, quem sabe até doloroso. Afinal, mudar algo em nós pode ser mais difícil que fazer exercícios físicos. Contudo, é necessário. Até o mais básico tutorial da internet exige algum esforço, dedicação e repetição. Se quiser aprender a cultivar bonsai, terá que investir tempo e dinheiro para desenvolver as habilidades. Se quiser cozinhar aquela receita diferente – talvez para conquistar alguém especial – terá que investir e aprender, e pode ser que não fique tão boa quanto você viu no YouTube. Se quiser aprender a desenhar digitalmente, terá que investir horas de treino para fazer seu melhor desenho.
E quanto as emoções? Também será preciso aprender sobre elas: reconhecê-las, entender em quais situações surgem, quais situações funcionam como disparador das emoções que estamos sentindo. Quais emoções são mais “perigosas”, pois me tornam mais reativo? O primeiro passo é saber que elas existem e fazem parte de nós. Se nos esforçamos para reprimi-las ou escondê-las, uma hora ou outra, elas irão aparecer, nem que seja disfarçadas de ansiedade, estresse, tremores, tiques e outras coisas mais.
Todas as emoções são válidas, mas nem todas precisam, podem ou devem ser transmitidas às demais pessoas.
Mas isso é assunto para outro artigo…
Nos vemos em breve!